domingo, 5 de dezembro de 2010

''Íssimo, íssimo, íssimo..."



O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.

Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço...


Nandinho sob a assinatura de Álvaro de Campos

sexta-feira, 12 de março de 2010

"A um poeta maior"

Por entre as mil e uma colisões atómicas
Que acontecem,
Que aconteram
E que estão para acontecer
Passar-te-ei uns versos...

Por tua causa, a existência tem:
Um sentido tão caótico
(Quando me sento numa secretária de proporções certas),
Uma visão tão absurda
(Quando apoio os meus cálculos numa máquina),
Uma ideia tão irresponsável
(Quando o senso comum é predefinido numa agenda).

Que alguma divindade sensata me valha!

Por tua causa,
Senti-me mais próximo da Razão quando:
Roubei uma flor,
E esse roubo me provocou arritmia,
E essa flor foi trocada por um sorriso.
E o médico que me curou foi graciosamente processado!

Somos a depurada e espontânea vegetação
Que tornam o universo desconfortável aos homens
E o mundo apreciado pelas mulheres.
(Ou só uma!, que nos basta!)

E por tua causa
O teu espírito colonizou-se em mim.
E o meu abriu os braços e disse:
"Obrigado!"

[[]]

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Poema solto: " Uma certa bestinha na minha escrita Naïf "

No outro dia conheci-te,
Eras imatura e pretensiosa.
Usavas flores com a cor da moda
Penduradas no teu núcleo,
Enquanto eu negociava o contrato
Do meu espírito com um senhor
Que tem a pele da mesma cor.

No outro dia conheci-te,
Eras introspectiva e distraída
Entre mundos e palavras soltas,
Que não eram verdades
Nem premissas de verdades,
Mas que o meu cérebro
Registava melhor que qualquer sinapse.

No outro dia conheci-te,
Tinhas uma voz aguda e atrevida
Mas que era qualquer coisa
Como o tear de cordas de um violino
No meio da arritmia de ruídos
De que é feita a minha existência barata.

No outro dia conheci-te,
Eras tímida e reprimida,
Complexada e nervosa.
E no dia seguinte
Dei-te um verso entre os lábios.
E a Terra aperfeiçoou a sua órbita,
E o ano teve só uma estação,
Os nórdicos tiveram Sol todo o ano,
E os vinhos a melhor colheita,
E no dia seguinte,
Tu deste-me outro verso
E o meu espírito não constou em nenhum contrato.

domingo, 12 de julho de 2009

Poema: "Para a Lili"

Até que ponto dura a cupúla de uma orquídea?
Até que ponto dura o canto de um melro?
Até que ponto dura a história de guerra de um velho?
Até que ponto dura o núcleo de qualquer coisa orgânica?

Para que o Mundo tenha noção
Da consistência do teu núcleo,
Vou tentar imortalizar-te com amostras de ti:

- Se o teu sorriso esconderes,
Os dias serão mais curtos
(Pois o Sol não se mostra para bem das plantas);

- Se a tua voz calares,
Todos os cães vadios uivarão
Até em dias de barriga cheia
(Pois eles só se calam enquanto te escutam);

- Se os teus gestos conteres,
A Terra mudará a sua órbita
(Pois ela orienta-se pelo teu magnetismo espontâneo);

- Mas se todo o teu espírito adormecer
No colo da eternidade,
O universo terá um fim
Até a olho nu de qualquer mortal.

Assim os meus olhos te lêem,
E o meu tórax te regista.
Assim, com estas palavras,
Terás a noção em bruto do que és
Para um pobr'alma como eu.

E se o mundo ainda assim não a tiver,
Deixa lá...
Algum dia tu a tiveste de mim.


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P.S: um chôcho *

sábado, 13 de junho de 2009

Poemas alheios: "Ode Triunfal" do Nandinho, sob a assinatura de Álvaro de Campos




Mais um ano, mais um aniversário. Nunca é demais e ele, o Nandinho, bem o merece. A ti! !*TCHIM*! !*TCHIM*!

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À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com o que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro.
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes e óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos.
Da faina transportadora-de-cargas dos navios.
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do útil
E as rodas, e as rodas - dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de l'Opéra que entram
Pela minh'alma dentro!

Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vadios; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocottes;
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo?)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!

Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Das colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos com uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!

Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!

Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, betão de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!

Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!

Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parcks.
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes -
Na minha mente turbulenta e incandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.

Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).

Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.

Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento da deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo dos navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!

Up-lá-hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!

(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah! olhar é em mim uma perversão sexual!)

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!

Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu não me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissenções domésticas, os deboches que não se suspeitam
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa^
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.

Maravilhosa gente humana que vive como cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!

(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Poemas alheios: Quatro simples poemas barrocos

"Como ele queria ser beijado"

Na boca só, e mais não
P'ra descer ao coração.
Nem tão livres, nem forçados,
Nem com língua de atrasados.

Nem de menos, nem fartanças,
Que isso é jogo de crianças.
Nem muito alto, nem baixinho:
No meio está certo o caminho.

Nem perto, nem longe - eu sei
Que isto assusta, aquilo dói.
Nem tão seco, nem molhado,
Tal por Adónis a Vénus dado.

Nem tão manso, nem tão fera,
Ou é já, ou fica à espera.
Nem devagar, nem com pressa,
Nem em qualquer ponto ou peça.

Meio mordidos, meio soprados,
Os lábios meio enterrados.
A uma hora decente,
E antes só do que entre gente.

E cada um beijar há-de
Como sabe, quer, deve ou pode!
Meu amor e eu saberemos
Como bem nos beijaremos!

Paul Fleming


"Soneto Alegórico"

Amanda, amor, peitilho p'ra frios corações,
Precioso cofre de ouro, tochar ardente do amor,
Fole de meus suspiros, mata-borrão da dor,
Areia de meus males, bálsamo de aflições,

Chama de minhas velas, de meus gozos manjar,
Bacio de meu descanso, da poesia clister,
Néctar de minha boca, pròs olhos um prazer,
Lugar de reverências, mestra de bem zombar,

Um poço de virtudes, calendário de meu tempo,
Facho de devoção, fonte de encantamento,
Tu, abismo profundo cheio de manhãs amenas,

Maçapão de minh'alma, e das línguas melaço,
E tudo o mais, amiga, que aqui deixar não posso,
Pinça de meus tormentos e espanador das penas.

Anónimo


"A Sílvia"

Porque praguejas, Sílvia, quando esta negra mão
C'o teu seio quer brincar?
Era alva como tu, e o fogo da paixão
Assim a fez ficar.
Se com teu fogo vens meu corpo incendiar,
De mármore nem neve pode a minha mão ser.
Dizes-lhe que não busque e não faça o que faz.
Tens Razão. Há-de ser.
Mais não busca que a ti, mais não quer do que paz
E seu jogo jogar.
De que te queixas, pois? E que razões ter julgas,
Já que favores iguais não os negas às pulgas?

Benjamin Neukirch


"Multiplicação dos cornos"

1

Quem tem mulher e não adivinha
Que ela lhe anda a fugir da linha -
Uma ingenuidade como esta
Merece bem um corno na testa.

2

Quem em segredo quase receia
Que a mulher bata a porta alheia -
Homens como este, desconfiados,
Pedem um par de cornos afiados.

3

Quem sabe, mas não quer saber,
Que a mulher o engana a valer -
De tão boa e tão pia, esta peça
Tem três cornos no alto da cabeça.

4

E quem com ela fica depois disso,
Para ela a outros ir prestar serviço -
Esse fica bem ornamentado
Com quatro cornos de lado a lado.

5

Mas aquele que ignora boatos
E diz que os cornudos ornatos
Não são para ele - esse, sem saber,
Em vez de quatro, cinco há-de ter!

Johann Michael Moscherosch


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Nota:
Todos estes poemas foram traduzidos da língua alemã para a língua portuguesa por João Barrento

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Melodias Poéticas: "Rock 'n' Roll Suicide" de David Bowie




Time takes a cigarette, puts it in your mouth
You pull on your finger, then another finger, then your cigarette
The wall-to-wall is calling, it lingers, then you forget
Ohhh how how how, you're a rock 'n' roll suicide

You're too old to lose it, too young to choose it
And the clock waits so patiently on your song
You walk past a cafe but you don't eat when you've lived too long
Oh, no, no, no, you're a rock 'n' roll suicide

Chev brakes are snarling as you stumble across the road
But the day breaks instead so you hurry home
Don't let the sun blast your shadow
Don't let the milk float ride your mind
You're so natural - religiously unkind

Oh no love! you're not alone
You're watching yourself but you're too unfair
You got your head all tangled up but if I could onlymake you care
Oh no love! you're not alone
No matter what or who you've been
No matter when or where you've seen
All the knives seem to lacerate your brain
I've had my share, I'll help you with the pain

You're not alone
Just turn on with me and you're not alone
Let's turn on with me and you're not alone (wonderful)
Gimme your hands cause you're wonderful (wonderful)
Gimme your hands cause you're wonderful (wonderful)
Oh gimme your hands.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Poema Alheio: "Lisbon revisited(1923)" do Nandinho, sob a assinatura de Álvaro de Campos

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem
[conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos
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E o vadio desta casa tomou a liberdade de tirar o seguinte catarro do pensamento:

Como se tivesse que pagar a indulgência de ser da elite,
mesmo não querendo ser da elite.
Deixai-me que eu "serei tão leve que não hei de pesar-vos nunca na memória" .(ponto)

NOTA: o verso "serei tão leve que não hei de pesar-vos nunca na memória" é adaptado do poema "Não adormeças" de Maria do Rosário Pedreira

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Poema: "Poema dedicado à Tua linha"




Perdi o comboio para o meu destino.
F...!!!
Perdi o comboio para aquilo que me designa melhor!
FF...!!!
Perdi o último comboio para me ser dentro de mim!
FFF...!!!

Estou há já vários tempos no mesmo apeadeiro.
Arre! Qu'este azoto não se destila cá nas veias!
Que os tectos do Mundo me caiam em cima!
Ai! Que hoje é um bom dia para adormecer
Com a cabeça sobre o colo da eternidade...!

Ah! Se o pensamento fosse barato!
Como para as mulheres de moral distraída...
Ah! Se as interjeições fossem todas cor-de-rosa!
Como para os homens que fomentam tais mulheres...

Malditos itinerários de uma só oportunidade!
Hoje era o dia do meu destino,
Amanhã o meu destino já não é o mesmo.
Hoje era o dia em que te cantaria ao Olimpo,
Amanhã o meu canto oxida a meio da Serra do Pilar...

RAIOS!
Vou partir as cadeiras em que o Criador se senta!
(Mas ele só as faz em granito...)
Vou berrar aos ouvidos dos anjos!
(Mas a voz dos mortais dissolve-se antes das nuvens...)
Vou entrefolhar a maior rameira do Universo!!!
(Mas nem os trocos p'ra outro bilhete de comboio tenho...)

...

Hoje o meu destino mudou sem a minha vontade.
Hoje o meu destino tornou-se num sonho
Que me é mais genuíno que a realidade.
Agora só os Deuses sabem se a Morte reorganizou
A celebração da minha chegada...!
Arre! O cieiro que tal sonho causa
No couro da mente!

A morte? A morte não me assusta...
A morte é uma cedência de lugar
A uma mulher grávida num comboio.
Com toda a certeza, morrerei orgulhoso.
(As leis do bom senso dizem-me para ficar de pé)
Mas até p'ra isso tinha que apanhar aquele comboio!

Raios partam a ferrovia e quem lá ande!





segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Poesia da Tenacidade: A marcar as 22 Primaveras


22... Fazem-me lembrar que não há muito foram 18 rebeldias para cada ano.